O discurso de Dilma e suas estratégias para retomar o cargo

Cercada por ex-ministros e populares, a presidente afastada Dilma Rousseff se despediu ontem do Planalto em discurso que resgatou passado e presente de sua gestão frente ao Executivo. Mais que cumprir formalidade que marca início de sua saída por até 180 dias do governo, a petista fez ainda fala emocionada, que revela estratégias futuras na luta para retomar o cargo.

“Vou lutar com todos os instrumentos legais de que disponho para exercer o meu mandato até o fim”, disse Dilma, ao lado do ex-presidente Lula. Apostando no legado social das gestões do PT em treze anos, a petista disse não ter cometido crimes e afirma, na verdade, ser vítima de “golpe” de setores que querem minar avanços conquistados pelo partido.

Mestrando pela Universidade de São Paulo (USP), o economista Matheus Assunção aponta que, apesar de ter garantido vitórias expressivas ao petismo, a própria pauta de avanços sociais da sigla é hoje colocada em xeque no debate público. “Essas conquistas trazem retorno político, mas, em algum momento, elas se esgotam. Novas políticas não foram feitas, e a crise acabou minando muitos dos ganhos”.

Já para a cientista política Nayara Macedo, doutoranda na Universidade de Brasília (UnB), estratégia de Dilma, apesar de frágil, acaba sendo única opção diante de um “quadro generalizado” de ódio ao PT na política. “Não restaram muitas opções, visto que o afastamento já está consumado. Restou à Dilma apelar para as conquistas sociais de seu governo e à falta de legitimidade do processo”.

Legitimidade e ruas
Em seus últimos minutos no Planalto, Dilma Rousseff contestou ainda a legitimidade do presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), em tocar mudanças na agenda econômica. “Um governo que não terá a legitimidade para propor e implementar soluções para os desafios do Brasil”, disse, acompanha por comitiva no Salão Leste do Palácio do Planalto.

Ao final da fala, a presidente afastada também fez apelo para movimentos sociais manterem mobilizações até o final do processo. “Aos brasileiros que se opõem ao golpe, independentemente de posições partidárias, faço um chamado: mantenham-se mobilizados, unidos e em paz. A luta pela democracia não tem data para terminar”, disse.

Para Nayara Macedo, apesar de protestos terem repercussão, futuro da petista acabará dependendo mais da capacidade de Michel Temer em “conciliar e acomodar” interesses de elites políticas e econômicas. “A percepção de que o afastamento foi puro resultado das pressões da rua é uma falácia. Da mesma forma que a ação popular por si só não será capaz de trazer Dilma de volta”.

A cientista política também destaca que, mesmo com acentuada pressão, Dilma não tem dado sinais de que irá renunciar, ao contrário de Fernando Collor em 1992. “O destino sempre me reservou muitos desafios, muitos e grandes desafios. Alguns pareciam intransponíveis, mas eu consegui vencê-los”, disse Dilma.

Já o economista aponta que, ao questionar sucesso de Temer, a petista acerta na estratégia. “Boa parte do apoio inicial que o presidente interino vai ter vem da desaprovação do governo anterior, e não necessariamente da aprovação de propostas do novo governo”, diz. Ele destaca que, entre promessas do peemedebista, estão ações que precisariam de maioria absoluta no Congresso.

“A maioria necessária é a mesma que foi para aprovação do impeachment. Mas não necessariamente quem aprovou o impeachment vai aprovar essas medidas. Até porque ajuste fiscal é corte de gastos, muitas vezes impopular. A melhor chance seria ele fazer isso logo de início, quando terá maior apoio”, avalia.

Estratégias de Dilma

1) Contestar legalidade do impeachment
“Meu governo tem sido alvo de intensa e incessante sabotagem. O objetivo evidente vem sendo me impedir de governar, e, assim, forjar o meio ambiente propício ao golpe.”

2) Contestar legitimidade de Michel Temer
“Um governo que não terá a legitimidade para propor e implementar soluções para os desafios do Brasil. Um governo que pode se ver tentado a reprimir os que protestam contra ele. Um governo que nasce de um golpe, de um impeachment fraudulento”

3) Recorrer à Justiça
“Vou lutar com todos os instrumentos legais de que disponho para exercer o meu mandato até o fim, até 31 de dezembro de 2018.

4) Resgatar legado do PT
“Ao destituir o meu governo querem, na verdade, impedir a execução do programa que foi escolhido pelos votos majoritários dos 54 milhões de brasileiros e brasileiras. O golpe ameaça levar de roldão não só a democracia, mas também as conquistas que a população alcançou”

5) Resgatar história
“Eu já sofri a dor indizível da tortura; a dor aflitiva da doença; e agora eu sofro mais uma vez a dor igualmente inominável da injustiça. O que mais dói, neste momento, é a injustiça. O que mais dói é perceber que estou sendo vítima de uma farsa jurídica e política”

6) Convocar militância
“Faço um chamado: mantenham-se mobilizados, unidos e em paz. A luta pela democracia não tem data para terminar,que exige de nós dedicação constante”

Fonte: O Povo

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