Goste do governo ou não, fato é que Cardozo fez discurso memorável à Câmara

Goste você do governo ou não. Goste você do papel do ministro da Advocacia-Geral da União ou não. Terá de reconhecer que José Eduardo Cardozo foi muito competente em seu discurso de defesa na manhã desta sexta-feira na Câmara dos deputados. Falou com eloquência, sem perder o equilíbrio. Falou com emoção, sem perder o raciocínio.

Já na quinta-feira, quase madrugada, ao pedir a palavra para proceder a sua sustentação oral no STF (Supremo Tribunal Federal), não foi atendido por força de regulamentação, mas todos os ministros que se manifestaram disseram que, embora ele não pudesse apresentar sua defesa oral, sentiam pelo fato de terem de se privar da sua oratória.

Sua fala nesta sexta-feira era esperada com ansiedade, tanto pelos governistas quanto pela oposição. Sabiam que, além dos argumentos pensados, medidos e ensaiados, teriam a oportunidade de observar um orador competente. Talvez até para servir de modelo àqueles que o sucederiam na tribuna da Câmara.

Suas palavras saíam, em determinado momento, com a força de uma cachoeira, quando os argumentos eram mais contundentes. Para, logo a seguir, serem proferidas como um riacho manso, para estabelecer o equilíbrio, acalmar o ambiente e convidar os ouvintes a continuar acompanhando seu raciocínio. As pausas, todas medidas e expressivas.

De maneira pensada, repetiu em diversos momentos os argumentos mais relevantes. Eram aqueles pontos que precisava neutralizar, já que constituíam a essência das acusações. Não foram poucas as vezes em que alinhavou seus argumentos numa sequência planejada, deixando para o final os que considerava os mais importantes. Para isso, aumentava gradativamente o volume da voz, dando ênfase e reforçando a importância de cada um deles até concluir o pensamento.

Os gestos funcionaram em perfeita harmonia com a inflexão da voz e a mensagem. Nos momentos de maior contundência, os braços se levantavam acima da cabeça, com o dedo em riste, mostrando a cada movimento a importância da mensagem. Nos instantes mais calmos, os gestos eram também mais tranquilos, acompanhando, de forma serena, a tranquilidade da mensagem.

Não apresentou nada novo. Tenho acompanhado seus pronunciamentos no papel de advogado de Dilma, ocupando as mais diferentes tribunas. Assim como tenho observado com atenção as suas entrevistas nas diversas emissoras de rádio e televisão. Repetiu a maior parte dos argumentos que tem utilizado nos últimos tempos. Por isso estava afiado, seguro e competente.

As apresentações anteriores serviram como espécie de laboratório para que não hesitasse em momento tão importante. Tenho certeza de que, se tiver de fazer outros pronunciamentos, o que certamente ocorrerá, seu desempenho de hoje servirá como mais um ensaio para que se saia ainda melhor. Há tempos não via um desempenho oratório com essa qualidade.

Independentemente do que venha a ocorrer com o destino da presidente, o desempenho de José Eduardo Cardozo será lembrado pelos governistas e pelos partidos oposicionistas com admiração e respeito. Não há dúvida de que sua capacidade oratória o credenciará para papéis importantes na história do país.

Por: Reinaldo Polito, autor dos livros: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, e "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva.

Fonte: UOL

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